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 Nota Biográfica

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A escritora portuguesa Alice Sampaio nasceu a 18 de março de 1927 em Mido, no distrito da Guarda, numa família de pequenos proprietários rurais, tendo passado a infância e parte da adolescência nessa aldeia da Beira Alta marcada pela miséria e pelo isolamento que antecederam o surto migratório da década de 1960.

 

Esta terra remota é, todavia, um lugar de natureza agreste e belíssima, com uma enorme riqueza humana e uma cultura popular milenar que, aos olhos ávidos e férteis da jovem Alice, ganha dimensões quase mágicas. É entre a imersão na vasta e rara biblioteca do pai, os passeios e as brincadeiras pela terra granítica e as histórias contadas pelos pais e pelas gentes da aldeia que Alice Sampaio vai crescendo e tecendo o seu complexo mundo. Depois de concluído o percurso na escola primária da aldeia e no liceu da Guarda, bate-se, com o apoio da mãe, por continuar os estudos, algo raro à época para uma mulher com as suas origens. Irá estudar farmácia em Coimbra, curso que concluirá já depois de casada, no Porto.

 

Algum tempo depois do casamento, em 1951, vai viver para Angola, onde nascem os seus quatro filhos. Esta passagem por África, terra primordial atravessada por uma vivência colonial contraditória, será também uma experiência determinante. Entretanto envolvida na contestação à ditadura e no movimento feminista, é “convidada” a sair de Angola pelas autoridades do regime, regressando a Lisboa em 1959. Começa então a publicar a sua obra, primeiro com o romance “A Cidade Sem Espaço”, em 1961, seguindo-se em 1963 uma incursão pela ficção científica, “O Aquário”, Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE), 1963.

Em 1967, publica o romance em dois volumes “O Dom de Estar Vivo” e, em 1968, a peça de teatro “D. Leonor, Rainha maravilhosamente”, que será levada à cena no Teatro Municipal de São Luís em 1979, com encenação de Norberto Barroca e Lia Gama no principal papel. Em 1969, publica a peça de teatro “A Rua da Ronda” e, por fim, em 1977, o primeiro volume do romance “Penélope”. Em 2023, por iniciativa de Um Coletivo e em parceira com a Tigre de Papel, foi reeditado o volume I e publicado pela primeira vez o volume II de Penelope, na coleção Ventriloquia.

 

A obra original de Alice Sampaio é profundamente marcada pela infância passada na sua aldeia natal e pelo empenho militante na luta pela emancipação das mulheres, num meio marcadamente machista como era Portugal no tempo da ditadura. Exemplares do seu olhar peculiar sobre a vida na aldeia nesses tempos são o romance “O Dom de Estar Vivo” e a peça “A Rua da Ronda”, que deveria ser “a primeira de uma trilogia para um Teatro dos Pobres”. As preocupações com a luta das mulheres refletem-se mais claramente em “D. Leonor, Rainha Maravilhosamente”, que apresenta uma outra visão do papel então muitas vezes esquecido das mulheres na História, e também no romance inacabado “Penélope”, uma espécie de contraponto ao “Ulisses”, de James Joyce.

 

Alice Sampaio morreu em maio de 1983, em Lisboa.

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