Penelope, A Infanta
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Penelope, A Infanta
O primeiro volume de Penelope foi publicado pela primeira vez em 1977. Foi reeditado em 2023, em conjunto com o segundo volume (inédito) por Um Coletivo, coleção Ventriloquia, e Edições Tigre de Papel
Trata-se de um romance que ficou inacabado e deveria ter doze volumes, réplica ambiciosa a Joyce e Proust, mas representativo do que há de mais interessante e profundo na obra de Alice Sampaio. Escrito numa linguagem talvez de mais difícil abordagem, em que a narrativa não se desenrola de uma forma linear, necessita, quem sabe, de várias leituras para saborear as suas diferentes camadas.
A Infanta
Volume I
a memória ou a suspensão da corrente do tempo
da sabedoria oriental
Time present and time past are both perhaps present in time future
T. S. Eliot
jésus
que
ma
joie
demeure
como belíssima larva verde verde de irrealíssimo verde corpo em flor os cabelos louros de todos os tons de louro tal qual metais raros nesse universo transfiguração do espelho persistência da memória rasgada aqui e ali por passado presente e futuro - um futuro entoado a dó-ré-mi pianíssimo nos lábios here is belladona the lady of rocks
havia sombras por todo o quarto e ela tirou da caixinha a hóstia que devia engolir sorrindo irónica as pobres criaturas não mais sabiam alapar-se no seio de um deus enfastiado de todo o existente per omnia secula seculorum que fora verdadeiro substituinte de pílulas ou teria herr doctor outros exorcismos armas mortíferas contra fobias e desesperações fantasias que nem nomeadas o poder de acordar sonâmbulas por módica quantia exorbitantes quantias se comparadas com a dos simples confessionários ajudado o cura pelo sacristão pessoal outrora amestrado um simples espinho da coroa de jesus dava para sarar mil maleitas maria santíssima por uma avé-maria recomendava qualquer degredado a seu divino
filho
durma senhora
dizeis bem
(...)