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A Cidade sem Espaço (1961)

É uma impressionante revelacão  de inquieta verdade humana este livro com que Alice Sampaio se apresenta no difuso panorama da nossa  literatura contemporânea. 

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

[I’m going away to Pasargadae
There I am friend of the king
There I’ll have the woman I want
On the bed that I will choose]
 

Manuel Bandeira [Brazilian poet]

 

L’essentiel, par ces temps de misère morale, c’est de créer de l’enthousiasme. Combien de personnes ont lu Homère? Cependant tout le monde en parle. On a créé ainsi la superstition homérique. Une superstition dans ce sens provoque une excitation précieuse. C’est d’enthousiasme que nous avons le plus besoin, nous et les jeunes.

 

Pablo Picasso

The City without Space
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O Aquário (1963)

Sobre o tema da angústia de viver, Alice Sampaio conseguiu escrever um livro profundamente original, graças a um deslocamento poderoso através do tempo e do espaço, que lhe permite despojar o problema do destino humano dos seus aspetos secundários ou contingentes, para chegar logo ao centro do assunto.  (...)

Com uma arte sugestiva, coloridíssima, a raiar pelo visionário, a autora constrói um mundo de paisagens e seres inconcebíveis, cheio de cidades minerais e vidas subterrâneas, palpitantes, evocado numa espécie de poema do estranho, profundamente perturbante.

Sans le Mouvement, tout serait une seule et même chose.

 

Balzac

A lente, monstruoso olho avermelhado, deixava filtrar um ténue raio de luz, luz que emergindo do foco se ia rasgar em milhares de dedos enroscados nos cabelos claros-sombrios da rapariga. Esta, adormecida, rosto atento e concentrado, o corpo em solitário abandono, a sugerirem a vertigem dum sono inquieto – era uma delicada e extravagante “manchette".

O quadro desencadeava-se em contido turbilhão. Voltando-se na cama, Maga estendeu uma perna e teve um lento e suave sorriso. Nesse instante entrou no compartimento um ser quase-monstro-quase-humano, dum verde quitinoso, rebrilhando como metal polido, a cabeça um esferoide onde aparecem e desaparecem fendas luminosas, todo um anárquico conjunto de traços e orifícios abrindo-se e fechando-se para o mundo envolvente: um rasgar que mais parece uma mirada e que logo é um sistema de perpendiculares, um sulco luminoso a semelhar pálido riso e que imediatamente se apaga, fina e ardente poalha em

volta dos traços - talvez concisa e matemática pergunta-resposta...

The Aquarium
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O Dom de Estar Vivo (The Gift of Being Alive) - 1967

A truly remarkable book, with bigger than life characters (women and men, but mostly women) far ahead of their time, in a claustrophobic country crystallized in the past. It is also a kind of subversive mirror of Portugal under the dictatorship, before the 1960’s wave of emigration, the Carnation Revolution (25 April 1974), the return of the Portuguese from the former colonies and its move towards Europe and the world radically changed it. And it is an extraordinary tribute to the role of education as a liberating force for every human being, women in particular.

 

The Gift of Being Alive

Epigraphs:

Chapter 1 - Summer smiles

                                                           

Chapter 2 - Garlic and saphires in the mud

Chapter 3 - The fire and the rose

Where is the summer, the unimaginable Zero Summer?

T. S. Eliot

Garlic and sapphires in the mud

T. S. Eliot

Is all the ash the burnt roses leave

T. S. Eliot

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D. Leonor, Rainha Maravilhosamente (1968)

Meus Senhores,

(por uma vez) tenho tanta coisa a dizer que estou com medo de ficar gago, e de semelhantes gagos está o Inferno cheio. Evidentemente, o Inferno seria a última coisa a assustar a maravilhosa D. Leonor de Alice Sampaio e a Alice Sampaio de D. Leonor.  (...)  Quem souber ler-ver o que aqui chamo "teatro", terá com D. Leonor, Rainha Maravilhosamente, a vertigem, coisa a meu ver muito boa, logo muito rara, e não só dentro da dramaturgia portuguesa.

Jorge Listopad in Prefácio

...dos quais dizia que nunca estaria vingada até que tivesse um tonel cheio das línguas deles.

 

Bem sabeis como aquela mulher é sages em muito mal e sabedora de grandes artes.

 

Fernão Lopes

Primeiro Acto

Cena I

 

Palácio da Idade Média. Noite. Mulheres vestidas de negro sentadas ao redor de uma fogueira. Movem as mãos descarnadas à transparência da chama:

 

Mulher : Malvados.

Mulher : Fidalgos.

Mulher : Burgueses.

Mulher : Desvairadas gentes vindas dos quatro cantos do Mundo. O Tejo a maior barcaria. Barcaria a entrar, barcaria a sair do Tejo. Ó, altos mares!

Mulher : Ó, amásias de fidalgaria. Ó, alma minha.

Mulher : Amásias de burguesia. Ih, o que aí vai ! Biscainhos, prazentins, lombardos, catalães, milaneses. O diabo! Negócios por grosso, negócios por miúdo, carregações de vinho e sal, carregações, mundos e fundos.

Leonor, Wonderfully Queen
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A Rua da Ronda  (Tarde Branca do Mês de Janeiro) (The Round Street - White January Afternoon) - 1969

Back cover:

A village in Beira Alta - before emigration - steeped in hunger and cold. The “round street” is a sort of Via Crucis of the people, the street where the procession of the Lord of Agony draws the closed curve of a boundless despair. How to overcome it? How to break the cycle? “The Round Street” is the first part of a trilogy “For a Theatre of the Poor”: the village, hungry and cold; the village during emigration (breaking the chain?); and the village later, much later...

Epigraph:

yo soy Merlín, aquel que las historias dicen

que tuve por mi padre al diablo

..................................................................

A ti digo ¡oh varón, como se debe 
por jamás alabado!, a ti, valiente 
juntamente y discreto don Quijote, 
de la Mancha esplendor, de España estrella, 
que para recobrar su estado primo 
la sin par Dulcinea del Toboso, 
es menester que Sancho, tu escudero, 
se dé tres mil azotes y trecientos 
en ambas sus valientes posaderas, 
al aire descubiertas, y de modo 
que le escuezan, le amarguen y le enfaden. 
Y en esto se resuelven todos cuantos 
de su desgracia han sido los autores, 
y a esto es mi venida, mis señores. 
 

Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha

The Round Street - White January Afternoon
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Penélope (1977)

Primeiro volume de um romance que ficou inacabado e deveria ter doze volumes, réplica ambiciosa a Joyce e Proust, mas representativo do que há de mais profundo na obra de Alice Sampaio. Escrito numa linguagem difícil, talvez hermética, em que a narrativa não se desenrola de uma forma linear, necessita, quem sabe, de várias leituras.  A própria formatação do texto era então inovadora.

A arte mais interessante e criadora da nossa época não está aberta aos possuidores de uma cultura geral; exige um esforço específico; fala uma linguagem especializada. (...) Mas o fim da arte é quase sempre proporcionar prazer ainda que leve tempo às nossas sensibilidades aderir às formas de prazer que a arte oferece em determinados períodos.

 

Susan Sontag  (citada na contracapa)

A Infanta

Volume I 
 

a memória ou a suspensão da corrente do tempo

 

da sabedoria oriental

 

Time present and time past are both perhaps present in time future

 

T. S. Eliot

jésus

que

ma

joie

demeure

como belíssima larva verde verde de irrealíssimo verde corpo em flor os cabelos louros de todos os tons de louro tal qual metais raros nesse universo transfiguração do espelho persistência da memória rasgada aqui e ali por passado presente e futuro - um futuro entoado a dó-ré-mi pianíssimo nos lábios here is belladona the lady of rocks

havia sombras por todo o quarto e ela tirou da caixinha a hóstia que devia engolir sorrindo irónica as pobres criaturas não mais sabiam alapar-se no seio de um deus enfastiado de todo o existente per omnia secula seculorum que fora verdadeiro substituinte de pílulas ou teria herr doctor outros exorcismos armas mortíferas contra fobias e desesperações fantasias que nem nomeadas o poder de acordar sonâmbulas por módica quantia exorbitantes quantias se comparadas com a dos simples confessionários ajudado o cura pelo sacristão pessoal outrora amestrado um simples espinho da coroa de jesus dava para sarar mil maleitas maria santíssima por uma avé-maria recomendava qualquer degredado a seu divino

filho

durma senhora

dizeis bem

Penelope
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